No início
de 1963, Angicos foi palco de uma experiência que viria a frutificar ideias famosas
em todo o mundo, arquitetadas por uma das figuras mais marcantes da história da
educação brasileira: Paulo Freire. As “40 horas de Angicos" é como ficou
conhecida esta experiência, que teve a ousada pretensão de alfabetizar adultos
em apenas 40 horas, lançando mão do chamado método Paulo Freire.
Naquela
época, Angicos possuía a assustadora taxa de analfabetismo de 75%!
O método
continha em seu cerne o uso de palavras que faziam parte do universo vocabular
do alfabetizando. Desta forma, o processo de apreensão do significado e
estrutura fonética das palavras seria acelerado. Slides de projeção eram
usados para exibir ilustrações relacionadas às palavras. Após o aprendizado das
palavras, promovia-se o chamado círculo de cultura, no qual procurava-se
discutir o significado do novo vocabulário na realidade social do aluno. Não
parava por aí: o método pretendia em sua fase final despertar uma maior
consciência e postura mais crítica do indivíduo com relação ao mundo.
Aula de alfabetização em Angicos, 1963.
As
pretensões da experiência despertaram a curiosidade de acadêmicos e da mídia. A
iniciativa recebeu apoio do governo do estado e captou recursos da SUDENE e da
USAID, uma agência americana criada por John F. Kennedy para financiar
programas assistenciais. A repercussão foi tamanha que estiveram presentes em
Angicos jornalistas dos principais veículos do Brasil e do mundo. O próprio
presidente do Brasil na época, João Goulart, e o então governador do nosso
estado, Aluízio Alves, participaram no encerramento das atividades do programa.
Foto: Aluízio Alves (Governador) e Paulo Freire
A
experiência conseguiu realizar o que propôs: alfabetizou 300 pessoas em 40
horas. O sucesso da experiência fez com que o governo de Goulart implantasse o
Plano Nacional de Alfabetização, para aplicar o metódo de Paulo Freire, criando
20 mil "círculos de cultura" pelo país, visando alfabetizar milhões
de pessoas.